O Modo Vencido/Submisso na Terapia do Esquema é um estado psicológico em que a pessoa se coloca constantemente em posição de inferioridade diante dos outros, renunciando aos próprios desejos, direitos e necessidades em nome da paz, da aceitação ou da evitação de punições. Esse modo frequentemente surge como uma forma de sobrevivência emocional, especialmente em contextos familiares ou relacionais marcados por autoritarismo, crítica constante ou rejeição. A pessoa aprende que ser obediente, calada ou invisível é a única forma de se proteger e manter algum tipo de conexão com os outros, mesmo que isso custe sua identidade e bem-estar.
Na vida adulta, esse modo se manifesta por meio de comportamentos passivos, dificuldade de dizer “não”, medo excessivo de desagradar e uma tendência a ceder mesmo quando isso gera sofrimento interno. A pessoa sente que não tem o direito de ocupar espaço ou discordar, como se suas opiniões fossem inválidas ou perigosas. Embora pareça calmo externamente, o modo vencido/submisso costuma carregar uma carga significativa de tristeza, ressentimento ou vergonha, sendo um dos responsáveis por relações desequilibradas e pela sensação persistente de anulação pessoal.
Características do Modo Vencido/Submisso:
- Renúncia aos próprios direitos e necessidades:
A principal característica desse modo é a tendência a abrir mão das próprias vontades para agradar os outros ou evitar conflitos. A pessoa se coloca constantemente em segundo plano, acreditando que suas opiniões, desejos e sentimentos não têm importância. Há uma sensação persistente de que ceder é mais seguro do que se posicionar.
- Medo de rejeição e punição:
Esse modo é fortemente influenciado por um medo profundo de ser rejeitado, criticado ou abandonado. Por isso, a pessoa prefere se adaptar ao que os outros esperam dela, mesmo que isso cause sofrimento. Ela acredita que qualquer forma de autoafirmação pode gerar retaliação ou perda de afeto.
- Comportamento passivo e evitativo:
Quem está sob domínio desse modo costuma evitar qualquer tipo de confronto, mantendo uma postura de submissão mesmo em situações injustas. Isso inclui não expressar desacordos, aceitar ordens sem questionamento e buscar constantemente aprovação, mesmo quando não concorda com o que está acontecendo.
- Sensação de invisibilidade e inferioridade:
O Modo Vencido/Submisso faz com que a pessoa se sinta pequena, invisível ou menos importante que os outros. Ela pode até acreditar que merece ser ignorada ou que não tem o mesmo valor dos demais. Essa postura interiorizada reforça o isolamento emocional e uma autoestima fragilizada.
- Tristeza e ressentimento silenciosos:
Apesar da aparência de conformidade, esse modo frequentemente esconde emoções profundas como tristeza, frustração e raiva contida. Como não consegue expressar seus sentimentos de forma saudável, a pessoa acumula um sofrimento silencioso, que pode se manifestar em sintomas de ansiedade, depressão ou somatizações.
Características Cognitivas (pensamentos típicos):
- “É melhor eu ceder do que arrumar confusão.”
- “Se eu me posicionar, vão me rejeitar.”
- “Minhas necessidades não são tão importantes quanto as dos outros.”
- “Não sou forte o suficiente para lidar com confrontos.”
- “Ficar em silêncio é mais seguro.”
Características Emocionais:
- Sentimentos frequentes de impotência ou inferioridade
- Medo intenso de rejeição, punição ou abandono
- Tristeza e frustração internalizadas
- Ansiedade diante de possíveis conflitos
- Culpa por desejar se posicionar ou dizer “não”
Características Comportamentais:
- Evita confrontos e discussões a qualquer custo
- Dificuldade em expressar desejos, opiniões e limites
- Tende a concordar, mesmo discordando internamente
- Submissão frequente a figuras de autoridade ou pessoas dominantes
- Vive se desculpando e justificando suas ações
- Permanece em relações ou situações injustas sem reagir
Postura Corporal e Linguagem Não Verbal:
- Postura encolhida ou retraída
- Evita contato visual
- Voz baixa, hesitante
- Expressão facial de insegurança ou desconforto
- Tensão corporal, especialmente em situações de pressão social
Formação do Modo Vencido/Submisso
Esse modo geralmente se desenvolve na infância, em ambientes familiares onde a expressão individual da criança era inibida, punida ou ignorada. Para sobreviver emocionalmente nesses contextos, a criança aprende a se anular e se adaptar às exigências externas, acreditando que só será aceita se for obediente, silenciosa e submissa.
- Ambiente autoritário ou controlador:
Crianças criadas por cuidadores extremamente rígidos, punitivos ou inflexíveis aprendem que se expressar ou discordar resulta em broncas, punições ou afastamento afetivo. Como forma de autoproteção, a criança passa a ceder automaticamente, evitando qualquer comportamento que possa gerar confronto.
- Medo de rejeição e abandono:
Se a criança percebe que ser ela mesma ameaça sua conexão com os pais ou cuidadores — por exemplo, quando recebe afeto apenas quando se comporta “direito” ou “como esperam” —, ela começa a se moldar às expectativas dos outros para não ser rejeitada. A autenticidade é trocada por obediência.
- Crescimento em um ambiente com críticas frequentes:
Famílias em que há julgamentos constantes, sarcasmo ou menosprezo às opiniões e desejos da criança ensinam que suas ideias e vontades são irrelevantes. A criança, então, desenvolve a crença de que falar ou se impor só trará vergonha, humilhação ou desvalorização.
- Modelagem de comportamentos submisso-passivos:
Se a criança observa figuras parentais que também se anulam — por exemplo, uma mãe que nunca expressa opinião diante de um pai dominador — ela pode internalizar esse modelo de submissão como a forma “correta” ou “segura” de se relacionar no mundo.
Impactos do Modo Vencido/Submisso na Vida Adulta
Quando o Modo Vencido/Submisso permanece ativo na vida adulta, ele pode comprometer significativamente a autonomia, os relacionamentos e a autoestima da pessoa. O adulto que opera sob esse modo frequentemente se sente aprisionado em padrões de obediência, evitação e autossilenciamento, mesmo quando já não está mais em um ambiente ameaçador como o da infância.
- Dificuldade de se posicionar e estabelecer limites:
A pessoa tem grande dificuldade em dizer “não”, impor limites ou expressar opiniões contrárias, mesmo quando sente que está sendo injustiçada. Isso pode ocorrer em relações pessoais, familiares ou profissionais, levando à sensação de estar sempre sendo “passada para trás”.
- Relacionamentos desequilibrados e insatisfatórios:
É comum que adultos com esse modo se envolvam em relações onde há controle, manipulação ou abuso emocional. Por medo de perder o afeto ou de gerar conflitos, a pessoa tolera comportamentos prejudiciais, ficando presa a dinâmicas de submissão e dependência afetiva.
- Desvalorização pessoal e baixa autoestima:
Com o tempo, o hábito de se calar, ceder e se anular reforça crenças de inferioridade. A pessoa começa a acreditar que realmente não merece respeito, espaço ou atenção, o que afeta diretamente sua autoestima e sua confiança para fazer escolhas autênticas.
- Acúmulo de emoções negativas reprimidas:
A raiva, a tristeza e a frustração não expressas se acumulam internamente, podendo gerar sintomas como irritabilidade silenciosa, crises de choro, somatizações (como dores de cabeça, gastrite, tensão muscular) e até quadros depressivos. Apesar da aparência dócil, existe um sofrimento significativo não verbalizado.
- Autossabotagem e paralisação frente à autonomia:
Por ter aprendido que “obedecer é mais seguro do que agir por conta própria”, o adulto com esse modo tende a se paralisar diante de oportunidades de crescimento pessoal ou profissional. A liberdade pode ser percebida como ameaçadora, e a pessoa prefere seguir ordens, conselhos ou expectativas externas a correr riscos em nome da própria realização.
Tratamento do Modo Criança Vulnerável na Terapia do Esquema
O tratamento do Modo Criança Vulnerável na Terapia do Esquema tem como objetivo central acolher, validar e fortalecer emocionalmente essa parte fragilizada do paciente, que representa necessidades não atendidas na infância. Em vez de eliminar esse modo, o foco é ajudá-lo a se sentir seguro, ouvido e protegido, principalmente por meio do desenvolvimento do Modo Adulto Saudável e da reparação emocional dentro da relação terapêutica.
- Validação emocional e vínculo terapêutico seguro:
Uma das primeiras etapas do tratamento é oferecer um espaço de acolhimento genuíno, onde o paciente possa expressar suas dores mais profundas sem julgamento. O terapeuta atua como uma “figura reparentalizadora limitada”, oferecendo compreensão, empatia e cuidado — elementos que muitas vezes faltaram na infância. Essa experiência de vínculo seguro permite que a Criança Vulnerável comece a se abrir e a confiar.
- Psicoeducação sobre necessidades emocionais básicas:
Através da psicoeducação, o paciente aprende que necessidades como proteção, aceitação, orientação e afeto não são fraquezas ou exageros — são necessidades humanas legítimas. Ao reconhecer isso, ele começa a perceber que seu sofrimento atual tem raízes em carências passadas, e que seu modo vulnerável não é um defeito, mas um reflexo de necessidades desatendidas.
- Diálogo entre modos e fortalecimento do Adulto Saudável:
A terapia promove o fortalecimento do Modo Adulto Saudável, que passa a acolher a Criança Vulnerável internamente. Com a mediação do terapeuta, são criados diálogos internos terapêuticos, nos quais o adulto oferece à criança proteção, afeto e orientação. Isso ajuda o paciente a desenvolver autocompaixão e a responder de forma mais adaptativa às emoções dolorosas.
- Exercícios vivenciais e técnicas experienciais:
O uso de técnicas como imaginação guiada, cadeiras vazias ou cartas emocionais permite que o paciente acesse memórias infantis e se conecte com sua criança interior de forma profunda. Nessas vivências, o terapeuta pode intervir simbolicamente como figura protetora, ou ajudar o paciente a, gradualmente, assumir esse papel por si mesmo.
- Desconstrução de modos disfuncionais de proteção:
Frequentemente, a Criança Vulnerável está encoberta por modos de enfrentamento como o Evitador Desligado, o Supercontrolador ou o Vencido/Submisso. Parte do trabalho terapêutico é ajudar o paciente a identificar esses modos, entender como eles tentam proteger a criança (ainda que de forma disfuncional) e trabalhar para substituí-los por respostas mais saudáveis e autênticas.
Objetivo Final
O objetivo do tratamento é permitir que o paciente reconheça, acolha e cuide de sua Criança Vulnerável de maneira consciente e compassiva, transformando uma parte antes temida ou ignorada em uma fonte legítima de conexão emocional e autoconhecimento. Por meio do fortalecimento do Modo Adulto Saudável, a pessoa aprende a oferecer internamente o que um dia lhe faltou: segurança, amor, validação e proteção.
Com o tempo, essa integração emocional promove uma maior estabilidade afetiva, senso de valor pessoal e autorregulação emocional. A pessoa deixa de viver refém de antigas dores ou de modos protetores rígidos, passando a viver com mais autenticidade, abertura e equilíbrio nos relacionamentos. Suas emoções deixam de ser vistas como ameaças, e passam a ser reconhecidas como guias legítimos de suas necessidades e limites.